terça-feira, 16 de outubro de 2012

Texto classificado para etapa estadual da Olimpíada da Língua Portuguesa


Bairro Praia e o Rio Taquari
Fernanda Graziele Padilha -7º ano 
Minha vida na infância era bem difícil, pois minha família era bem pobre e numerosa, desde muito pequena eu já trabalhava para ajudar meus pais e meus irmãos.
De manhã bem cedo, eu já estava de pé, tinha que ir para a escola, que era longe, nossa, como era longe. Como era muito pobre não tinha chinelos para calçar ao ir até a escola, levava-os na mão. Os chinelos que tinha eram os de dedo, aqueles que arrebentavam a tira e meu pai colocava um preguinho para poder calçá-los por mais um bom tempo, pois o chinelo ainda era usável. Ainda hoje, ao lembrar dos meus chinelos carregados na mão, em pleno inverno, doem-me os pés, pois era sofrido ter pés e mãos congelados pelo frio e frio doi muito. Nossa, não gosto nem de pensar, como a gente sofria.
Como eu trabalhava muito e a escola era longe, infelizmente parei de estudar na 5ª série; minha mãe, coitada, não fez nada para impedir e hoje me arrependo de ter parado de estudar e como me arrependo.
Meu velho pai era muito severo, não podíamos pedir um copo de água que já apanhávamos, ai da minha mãe caso se metesse para ajudar, ele ficava furioso.
Nesta minha vida sofrida, tinha raros momentos de lazer, o principal eram os bailes do interior. Bailes que iniciavam muito cedo e igualmente terminavam cedo e foi num desses bailes que conheci o meu marido.
Depois de casados viemos para Lajeado com nossos filhos e com meus pais doentes. Viemos para cá tentar uma vida melhor para nossos filhos. Meus pais vieram nos acompanhar porque precisavam de cuidados e cuidei deles com todo amor e carinho que os filhos devem cuidar dos seus pais. Minha mãe faleceu um ano depois que viemos pra cá e fiquei cuidando do meu pai que algum tempo depois também faleceu. Como sinto saudades dos meus velhinhos! Com o dever cumprido com meus pais restava-me dedicar o tempo integral aos meus filhos e ao meu marido.
Quando vim para Lajeado, a cidade era muito diferente, era bem pequena e calma. As crianças podiam brincar na rua sem preocupação, pois quase não havia circulação de veículos e também não havia violência. Todas as pessoas se conheciam e enquanto nós, adultos, nos reuniamos para saborear um delicioso chimarrão ou mate, ou seja, chimarrão com acúcar, nossos filhos corriam pela rua brincando de pega-pega, esconde-esconde, de carrinho de rolimã. Eles se divertiam de montão.
No centro da cidade, onde ficavam as lojas e os armazéns, hoje chamados de supermercados, vendiam de tudo. Inclusive eram feitas trocas de produtos coloniais como ovos, manteiga ou shmier por produtos industrializados como farinha e açúcar e até tecido em metro para a confecção das roupas da família. Estas casas de comércio eram muito raras, pois comprava-se poucas mercadorias.
Temos o conhecido Bairro Praia, assim conhecido por nós que vivemos a mais tempo nesta cidade, onde se localizava a avenida Beira Rio, que tem este nome por localizar-se nas proximidades do Rio Taquari. O bairro recebeu este nome por nós porque era lá que lavávamos nossas roupas e nossos filhos tomavam banho no tempo em que a água era limpa.
Enquanto eu lavava as roupas com sabão feito em casa com sebo e soda, meus filhos tomavam banho e minhas filha brincavam nas pequenas ilhas que se formavam no Rio Taquari pois antes da construção da barragem o rio era raso e dava para atravessar a pé. As minhas filhas, ao me observarem lavando roupas faziam o mesmo, pegavam as roupinhas das bonecas e lavavam do mesmo jeito que eu lavava as nossas roupas. Aquilo me emocionava muito, ver as minhas pequenas me imitando, pois neste momento tinha certeza que estavam aprendendo comigo.
Era igualmente agradável ir na pracinha da Beira Rio, sentar com meu marido para tomar um bom chimarrão enquanto as crianças brincavam. De repente vinham outros casais com seus filhos e enquanto conversávamos, nossos filhos curtiam a infância sem medos e receios de serem felizes. Lembrando tudo issso me bate uma saudade do tempo em que meus filhos eram pequenos e nossa vida na cidade era calma e tranquila. Ai que saudade desse tempo.
Nossa, que saudades desse tempo!

  Sentindo a textura da terra preta; em seguida plantio das sementes e conversa sobre os cuidados e necessidades das plantas. 3⁰B1 e 3ºA2